quarta-feira, 27 de julho de 2011

Ladies Room

"Nossa mas que cheiro horrível ! 
Essas meninas não têm um pingo de educação; por falar em pingo é o que mais tem na tampa desse vaso. Eca!!
Adorei seu rímel.
Foi né benhê... muitoooo mara. Nossa, o que era aquilo? Estou em choque até agora.
Sim, lá na rua XV, está tudo em promoção. Cada sandália mais linda que a outra.
Mentiraaa!! Sabia que aquele peito era de silicone.
E aquela baranga que não tira o olho do meu namorado. Aiii menina que ódio. Se ela abusar eu jogo essa batida naquele cabelo de chapinha dela.
Nada! Aquele casamento é de fachada, tudo mundo sabe disso. O negócio dele, benhê , é outra coisa... E dessa fruta eu como até o caroço. Nãooo! Queimar rosca, dar ré no quibe... essas coisas.
Comprei. Semana passada. Combina com minha bolsa creme e também me deixa mais magra. Acabei de sair da tpm e acabei comendo uma lata de brigadeiro.
Meu dermatologista me receitou - ótimo para secar espinhas.
Alô! Não, vou mais tarde. Preciso passar em casa para trocar de casaco primeiro. Beijos. Tchau.
Bom, vamos voltar pra mesa que nossos namorados estão sozinhos por lá e, já viu né, devem estar falando de futebol, som de carro, marca de cerveja, revista de mulher pelada... Esses assuntos... chatos e  sem conteúdo.
Homens !"

terça-feira, 19 de julho de 2011

Se partir de mim, que parta em partes
Se partes todo é por crueldade
Se partes meio é por piedade
De mim se parta a parte vã
O parto partido das partes perdidas
Pouco reconhecidas, mas ainda assim, pedaços
, Partidos
Partir
Um lugar distante
Partido
Sangra canção de amor
Partituras
Destino:  (?)

domingo, 17 de julho de 2011

E quando o melhor é não sentir nada?
Quando o nada torna-se tudo o que você gostaria.
Ser você é um peso quase insuportável.
A vida te daria outra chance?

Você corre o risco ou prefere correr de si mesmo?

Por Pollyana Oliveira

quinta-feira, 14 de julho de 2011

Juliete, 55

Hoje.  Mais um dia.
Gostaria de chorar, mas minhas lágrimas se recusam a cair.
Poderia tocar violino, mas não tenho.
Cuspir o catarro da minha garganta já seria um grande avanço.
Tenho saudade dos tempos dos folhetins e de quando minha memória não falhava.
Nesse momento um cigarro e um café me ajudariam muito mas deixei os dois, tenho manchas no pulmão direito e desenvolvi uma gastrite nervosa.
Ao menos consegui fazer alguma coisa, uma mancha no pulmão direito e uma gastrite nervosa são duas grandes conquistas.
A primeira foi devido uma pneumonia mal curada- na época pensei  que fosse sintoma de amor, exceto pela tosse, que havia associado ao fato de ficar com tênis molhado após pisar numa poça d'agua- mas sentir o corpo ferver, calafrios, falta de ar, pensava ser sintomas agudos de uma paixão.
 A segunda foi porque esse amor não me amou. Me queimava o estômago e me ardia a garganta.
Os dois também tiveram a ver com o abuso de tabaco.
A moça que trabalha no posto de saúde disse que estavam montando um grupo anti-tabagismo e me convidou.
Parecia um santuário de pessoas mal acabadas. Me senti uma estranha no meio de tanta gente relatando sua história com o vício.  Um rapaz, bonito até, contou que iniciou o fumo porque viu seu cachorro morrer de acidente trágico- conseguiu subir pelo portão, mas não chegou do outro lado, morreu espetado pela lança mesmo- "Era tanto sangue e gordura que escorriam que fiquei uma semana sem dormir direito". A senhora que não me recordo o nome mas a idade, 68 anos e bem vividos [sic], descobriu que seu marido de 73  tinha se descoberto gay e estava tendo um caso com um rapaz de 39, vizinho do andar de baixo do apartamento que lhe custou 40 anos de médias prestações. E Eu?
O que eu tinha pra contar?
- Bom... me chamo Juliete, tenho 55 anos,  nunca perdi cachorro ou parente ou amigo. Nunca fui trocada por ninguém.  Oi? Não, não, é que não tenho ninguém na vida mesmo!  Moro sozinha... Não senhor, não tenho ninguém não! Nem ! Não tenho nada meu, a casa onde moro é alugada, ando de ônibus, pego cesta básica na paróquia do bairro. Nada moça! Bem... pra não falar que não tenho nada, tenho uma mancha no pulmão direito e uma gastrite nervosa.
Proxima sessão: semana que vem.
Por esses dias tive pensando em criar alguma coisa nova, uma coisa que ninguém nunca pensou. Mas minha cabeça não anda boa e não consegui ter nenhuma idéia.
Também tive vontade de tomar leite gelado com farinha de milho torrado- uma vez entrei numa venda e vi a mãe dando uma caneca com essa mistura para o filho- mas acho melhor não, vai que me ataca a gastrite.
Estou fazendo tratamento. Trato do pulmão direito, da gastrite e do vicio em cigarro.
No inverno não posso tomar banho nos dias muito frios, corro o risco de ficar resfriada e meu pulmão é fraquinho e também tenho que evitar remédios para esse tipo de doença, eles tem cafeína e me atacam a gastrite, além me darem vontade de fumar.
O padre me convidou certa vez para cuidar de acender as velas durante a missa, mas deixei cair parafina em cima da bandeja de hostia e ele me disse que era melhor tirar a poeira dos santos. Eu fazia com muito carinho, mas acabei deixando São José cair e ficar sem a cabeça, coitado. Percebi que não tinha afinidade com igreja.
Ah, não contei minha experiencia como florista. Gosto de falar essa palavra e sentir que já fui um dia: Florista! Na verdade eu não plantava e nem cuidava das plantas, eu era ajudante. Retirava os espinhos das rosas, mas florista é mais bonito! A empresa faliu e tive que sair do emprego. Aliás, foi lá que me ajudou a desenvolver a pneumonia. Entrava e saia da estufa o tempo todo para buscar as flores e as vezes carregava o caminhão com os arranjos durante a chuva.
Arrrrrrrgggh!!! Ando irritadissima. Acho que são os remédios do tratamento.
Meu cabelo está meio prata e minha sobrancelha por fazer. Tenho um resto de arroz e linguiça na geladeira, melhor esquentar e comer, não gosto de desperdiçar comida.
Não gosto de desperdiçar comida, queria tocar violino, chorar um pouco, ser ouvida no grupo anti-tabagismo, ter um cachorro pra vê-lo morrer, um marido gay, uma capela pra frequentar e uma floricultura. É, descobri. Quero tudo isso na minha vida e também sempre ter arroz e linguiça na geladeira.
Esse tratamento está acabando comigo.
Acho melhor não ir mais ao médico e nem ao grupo de apoio.
Tem chovido muito e feito frio ultimamente, não ando bem do pulmão direito e essa preocupação ainda me mantém a gastrite nervosa...

Por Pollyana Oliveira

terça-feira, 12 de julho de 2011

Qual o dom da vida?

Dar vida a um morto? (!)

O insensivel que vê e não enxerga
Aquele sussurro quase calado no meio da noite e o medo de deixar de respirar
A ameaça que brilha como o aço e o membro que virilmente dá o suposto poder de poder tudo
O inocente corrompido e sucumbido ao seu próprio ventre genitor
Os sonhos perdidos
A brincadeira roubada
As garrafas pelo chão e mais um choro: inconsolávelmente atemorizante
A fome de ser
E aqueles olhos apagados [antes assim o fossesm fronte tamanha matança] sem visço
Uma palidez coberta por falsos risos

Vamos brincar de casinha?
Eu tenho fogãozinho, boneca e um gatinho
Tem a mamãe, o papai e os meus irmãozinhos - nossa casa tem uma árvore ;  Papai fez um balanço
Hummm adoro batata frita no almoço e quando mamãe fica com dó de me acordar no sofá e me deixa dormir sem escovar os dentes
Me deixa ser sua filha?
Quero conhecer o seu mundo !
Me leva daqui e me mostra que foi tudo um

Por Pollyana Oliveira sonho triste ...

terça-feira, 5 de julho de 2011

Porque às vezes a felicidade dói?
Qual a intenção de querer não ser feliz?
Posso me culpar de existir, talvez.
Me desprezo ao ponto de armar minhas próprias ciladas e de cair ingênuamente.
Sou melhor quando estou longe, quando sou apenas pensamento ou projeção.
Me traio tanto que não consigo sequer dar vazão às minhas angústias, nem com lágrimas, gritos, palavras...
Eu quero não querer
Quero não sentir
Deixar de existir


Por Pollyana Oliveira
Às vezes é necessário um suícidio para um renascimento